sábado, 23 de agosto de 2014

Imagine Isto! Apresentar Brincadeiras Simbólicas no Playroom do The Son-Rise Program®


Dizem que as crianças no Espectro do Autismo não têm imaginação. Talvez esta corrente de pensamento esteja ligada ao facto de algumas das nossas crianças usarem de forma repetitiva e em isolamento. Por exemplo, em vez de usarem uma colher de plástico para fingirem que comem com ela, podem sacudir a colher para a frente e para trás à frente dos olhos ou talvez alinhem colheres umas atrás das outras. Pode estar relacionado com a dificuldade que têm em relacionar-se e em criar ligação com outros e, por isso, não estão tão interessados em aprender e em imitar o que as pessoas à sua volta fazem. Num mundo que é sobre estimulante de muitas formas, as nossas crianças têm aspetos suficientes a superar para conseguirem lidar com o mundo à sua volta. Enquanto observo a minha filha de 18 meses, noto que está sempre a fingir que faz pilhas de roupa para lavar, embala a boneca dela e faz com que os seus peluches se abracem e beijem uns aos outros. Ela observa o mundo à sua volta e tenta replicar o que viu aos outros fazerem… querendo ser exatamente como eles!

Quando reflito sobre o que significa ter imaginação, apercebo-me de que para mim é mais importante do que fazê-lo de forma socialmente bem aceite. Pode ser um escritor, um artista, um poeta ou um criativo e ser socialmente reservado ou introvertido ao mesmo tempo. Talvez seja a forma pela qual nós partilhamos ou nos expressamos que é rotulada de pouco imaginativa ou não.

O primeiro passo para ajudar as nossas crianças a dar asas e a expressar a sua imaginação é acreditar que elas têm um potencial ilimitado e que têm uma imaginação fantástica que podem ainda não nos ter mostrado.

Portanto… porque é que é tão importante incorporar a imaginação nas nossas atividades com as nossas crianças?

1) Desenvolvimento Social e Emocional: Quando as nossas crianças começam a entrar no mundo dos jogos simbólicos, começam a experimentar coisas a partir da perspetiva de outra pessoa. Isto ajudá-las-á a ver para além delas próprias e permitir-lhes-á compreender os pontos de vista dos outros, desenvolvendo consciência e compreensão sobre os pensamentos e sentimentos dos outros. Num mundo que é imprevisível de muitas formas, as nossas crianças também ganham maior controlo e autoestima quando se permitem experimentar outra personalidade e serem quem quer que desejem. Através do jogo simbólico podemos também ensinar aos nossos filhos como jogar à vez e como partilhar responsabilidade, dando espaço a experiências mais sociais e recíprocas com os nossos filhos que estão tão habituados a se isolarem e a ficarem absortos nas suas atividades repetitivas e isoladas.

Como é que o fazemos? Usamos os objetos do nosso Playroom do Son-Rise Program®para representarem outras coisas. Por exemplo, se está a saltar com o seu filho sobre a bola, pode fingir que a bola é uma nave espacial, um barco ou um carro. Ou, pode tornar-se noutra personagem cantando para ele na voz do Pato Donald ou na voz do parente de quem ele mais gosta. Estimule o seu filho a participar fisicamente convidando-o a alimentar um fantoche, o cão de peluche ou a dar um gole no chá das cócegas! As nossas crianças aprenderão enquanto nos observam, por isso mostre-lhes como brincar antes de lhes pedir para o tentarem.   

2) Linguagem: A utilização da linguagem num jogo simbólico ajuda a organizar o jogo, evidencia e indica o que se passa enquanto representamos uma certa cena ou história. Isto ajuda os nossos filhos a associarem a linguagem à criação de contexto ou a estabelecer uma cena, vendo a linguagem como uma ferramenta útil nas nossas vidas. Também permite que o nosso filho pratique a sua linguagem de uma forma indireta onde tudo pode acontecer (e.g. através de uma personagem).

Como é que o fazemos? Ponha o seu filho a representar uma determinada personagem. Primeiro mostre-lhe como diferentes personagem podem falar e o que podem dizer. Garanta que faz pausas e deixe espaço para que ele participe verbalmente e seja espontâneo na linguagem dele. Por exemplo, se você está a representar uma cena do Toy Story, tente dizer “Eu vou ser o Buzz Lightyear e tu podes ser o Woody! Vamos fingir que eles vão nadar à praia. Para o mar e até lá ao fuuuuuundo!... Estou tão empolgada para ver se a água está quente ou fria!”…

3) Competências cognitivas de pensamento: Fazer negociação e acordos com os companheiros de brincadeira é uma parte importante do jogo simbólico e ajudará os nossos filhos a trabalhar em grupo com os colegas, decidindo o que fará cada personagem, que roupa vestirá, de que acessórios precisará, etc. Também ajudará os nossos filhos a fazer a sequência entre o passado e o futuro e a refletir sobre eventos à medida que cada cena é representada.

Como fazê-lo? Fazendo perguntas ou pedidos para inspirar as nossas crianças a participar antes de entrar em perguntas e pedidos abertos. Por exemplo, ao jogar ao tratador de animais, diga: “A seguir vamos dar de comer ao macaco ou ao tigre?” seguido de “O que é que vamos dar de comer aos pinguins?”. Motive-o a ajudá-lo e a trabalharem em conjunto (e.g. “Preciso da tua ajuda para apagar este fogo na floresta!”)

Quando é que fazemos isto com os nossos filhos? Começamos a fazer isto com as nossas crianças quando elas já interatuam fisicamente connosco (e.g. cócegas, cavalitas, apanhada, etc.) e também já começaram a interagir com objetos e atividades partilhados (e.g. jogos com bola, fantoches, jogos de tabuleiro simples, etc.). Agora queremos começar a aprofundar os tipos de interações que têm connosco apresentando-lhes jogos simbólicos e de imaginação. Isto só pode ser feito quando as nossas crianças estão disponíveis e nos mostram que estão prontas e socialmente abertas (e.g. uma vez que estejam a olhar, respondam e já estejam envolvidas numa atividade qualquer connosco).
Se elas já mostram interesse em jogos de faz-de-conta, então força! Ajudem-nas a expandir os seus interesses dentro do mundo maravilhoso da imaginação e das possibilidades a explorar dentro de nós!

Outras dicas úteis: Dêem aos vossos filhos TEMPO PARA PROCESSAREM e tomarem as suas próprias decisões no jogo antes de fazerem tudo por eles. Dêem aos vossos filhos oportunidades de ceder e seguir a vossa liderança quando for a altura certa.

USEM OS SEUS INTERESSES E MOTIVAÇÕES ACTUAIS para lhes mostrar como brincar. Demonstrem com os seus animais de peluche e bonecos preferidos.

FESTEJEM SEMPRE QUE ELES SE MOSTREM ENVOLVIDOS ao longo da brincadeira, independentemente de estarem muito ou pouco envolvidos! 

DÊEM CONTROLO! Se eles não querem fazer alguma coisa e preferirem ficar sentados a ver, sejam entusiastas e flexíveis da mesma maneira durante a brincadeira. Quanto mais adaptáveis forem, mais os inspirarão a tentar mais tarde.

NÃO DESISTAM! Mesmo que eles inicialmente não pareçam compreender um conceito, isso não significa que eles nunca compreenderão. Quando uma criança vos vê como modelo a seguir e gosta do que vocês fazem, quanto mais ligada e motivada se tornar, mais aprenderá!
Becky Damgaard
Quadro Senior do ATCA (Professora do Son-Rise Program®) 

In http://blog.autismtreatmentcenter.org/2013/06/imagine-this-introducing-imaginative.html 


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