domingo, 9 de novembro de 2014

Alimentos sensoriais - sistema tátil

 Caixa de arroz colorido - muito a sentir, mexer, perceber, brincar e criar!

Por Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO
Um mar de sensações e ideias

Este é um dos materiais mais simples e de múltipla utilidade na clínica e na educação.
Para qualquer idade, gênero e inúmeros propósitos.

Eis alguns deles:

-só em colocar as mãos ou os pés na caixa cheia de arroz já estimula noções do corpo, sensação e percepção. A partir do movimento é também uma forma de estimular a propriocepção.
Dependendo do objetivo e idade pode ser estimulado a discriminação da  percepção corporal e de objetos. E o melhor, regulando o tônus.

-tenho usado também com adultos na Eutonia. Proporciona outra referência indo além da experiência tátil. Experimente e se deleite.
Certa vez uma criança comentou que a sua mão ficava mais macia.



-para crianças com hipersensibilidade tátil - por ser colorido e de toque suave torna-se convidativo para brincadeiras de colocar as mãos, os pés, sentir os dedos mexendo na superfície e profundidade. Ampliando o repertório de sensações táteis.

-na brincadeira de achar os objetos escondidos no fundo da caixa sem o auxilio da visão a criança vai refinando o aparato sensório-motor e perceptivo. O que é preciso fazer com as mãos para encontrar o objeto? E como manipular o objeto na mão para reconhecê-lo? Parece fácil mas requer maturidade neurológica.

Cadê o chapéu do palhaço?
-podemos fazer desenhos e escrita usando pouco arroz no recipiente, com os pés e mãos.


-o arroz pode passar a ser um mar ou rio para pescaria. Usar o imaginário para ações de coordenação motora, planejamento motor, coordenação viso motora podendo ser combinado ao equilíbrio nas diferentes posturas e planos. Na terapia de Integração Sensorial podemos combinar o uso de balanço suspenso que se transforma em barco.


Pela vivência sei que para cada um toca de um jeito, e é tocado. O bom é escutar como cada pessoa entra em contato com este material e qual o efeito que se propaga, desde o mais físico até o imaginário.

E então, se você já experimentou este material qual a sua brincadeira preferida?

Como fazer:
Usei 5 kg de arroz, 3 cores de anilina comestível e colori no arroz embebido com álcool, separadamente. Rápido, fácil e ainda fica mágico podendo ser feito com a criança. Depois de seco mistura tudo e coloca em um recipiente fundo.





QUARTA-FEIRA, 14 DE AGOSTO DE 2013

10 dicas para ajudar no processamento sensorial em crianças com seletividade e recusa alimentar

Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO

Estas dicas servem para qualquer criança que apresente sinais de Disfunção de Processamento Sensorial.
1-"Alimente o corpo" .
-valorize a experimentação do corpo todo integrado aos sentidos vestibular, proprioceptivo, visual e auditivo de maneira criteriosa. Isto faz parte do programa da terapia de integração sensorial e deve ser orientado para a família seguir a "dieta sensorial" necessária para cada criança.


-ofereça todo dia brincadeiras sensoriais que convidem a criança a explorar seu corpo e o ambiente de várias maneiras para conhecer e ampliar seu repertório sensorial.

2-"Mexa com as mãos". Um caminho para chegar à boca
 Favoreça momentos lúdicos prazerosos de exploração tátil com diversos materiais, comestíveis ou não.
- massinha, argila, tinta. Papéis e tecidos com texturas diferentes que podem estar no ambiente e revestindo objetos que a criança usa no cotidiano



- farinhas, grãos, sementes, gelatina, mingaus coloridos, frutas.  Mexer em alimentos secos e molhados, sólidos e pastosos, podendo fazer "melecas", de acordo com as possibilidades da criança. Mas tenha por perto um pano se ela quiser se limpar a qualquer momento.




- faça brincadeiras de transformação junto com a criança: uma farinha que vira mingau. Uma aveia que vira um biscoito.
- brinque de achar brinquedos dentro de uma caixa com grãos. Use meias para brincar para fazer fantoches.


- brinque de faz de conta simulando alimentar bonecos, fazendo comidinhas sensoriais.

3-"Alimente os olhos".
-Muitas crianças com dificuldade na sensibilidade tátil começam a explorar os alimentos pelos olhos. Podendo ser uma forma de acomodação ao estímulo tátil.


-crie bons hábitos alimentares com a família que a criança possa ver o modelo das outras pessoas.

-mostre a preparação dos alimentos. De qual fruta se faz o suco?



-faça combinações divertidas dos alimentos para deixar a refeição convidativa. Para alguns pode ser interessante os alimentos de cores contrastantes. Pesquise e experimente.


4- "Respeite o tempo"
-sempre comece pelo que a criança gosta e consegue suportar. Se no começo ela só conseguir olhar e não tocar, respeite.
-ou se for preciso deixe comer os alimentos separados e em quantidade menor.
-para alguns é necessário um tempo maior e um certo modo para conseguir processar as informações.
-valorize sempre os mínimos progressos. Eles podem aumentar!

5- "Prepare a boca"
-antes das refeições, se for possível, estimule brincadeiras orais com cantigas e expressões faciais diferentes


-ofereça bolinhas de sabão, apitos ou outros brinquedos de sopro
-se a criança permitir faça toques com pressão na região oral
-use vibradores orais em contexto de brincadeira.

6- " Prepare para as mudanças"
-coloque algum elemento novo naquela brincadeira conhecida, de acordo com o nível e faixa etária da criança. Quanto mais ela aprender a se adaptar às diferenças mais terá recursos internos para amadurecer a auto-regulação.

7- " Prepare o ambiente"
-a partir do perfil sensorial da criança faça as acomodações necessárias ao ambiente para evitar momentos de desorganização.
-apresente cartelas visuais preparando a sequência da rotina. Elas ajudam a muitas crianças a preverem o que vai acontecer e acomodar uma possível ansiedade.
-deixe o ambiente tranquilo. Preste atenção ao que a criança não gosta além da comida. Por exemplo, para crianças que se incomodam com barulho alto não ligue o liquidificador no momento da refeição.

8- " Ritualize"
-deixe sempre definido a hora, duração e local da refeição. Que seja de preferência sentado à mesa, com os pés apoiados. Evite ligar a TV ou aparelho eletrônico.
-coloque regras claras. Principalmente quanto ao item de qualidade alimentar. Procure não oferecer líquido antes da refeição e nem guloseimas substituindo a refeição para não interferir no apetite.

9- "Valorize a independência "
-incentive a participação ativa da criança mesmo que seja possível só em curtos períodos. Tente favorecer a imagem e sensação do movimento de alimentar-se sozinha, fazendo junto com ela e organizando a ação.



10- " Prepare-se".
Não é fácil para algumas famílias. Busque em você uma atitude de auto conhecimento e aceitação do que for possível. Ao mesmo tempo alimente o vigor para continuar os desafios. Reserve um tempo para cuidar de você também.
Lembre-se: cada momento lúdico e de prazer é um passo para a autonomia, para qualquer um, no nível que puder ser!

Crianças com seletividade e recusa alimentar - uma questão de processamento sensorial

Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO

A questão alimentar tem sido um lamento para algumas mães e sofrimento para seus filhos!
Nem toda restrição alimentar tem como base a Disfunção de Processamento Sensorial (DPS). Porém, muitas crianças que têm esta disfunção passam anos de estresse por não serem compreendidas na sua real causa de restrição alimentar. Infelizmente, muitos profissionais ainda se negam a olhar pelo campo sensorial.
Podemos considerar que há uma série de fatores que influenciam na prática alimentar, dentre eles: as relações parentais, preferências pessoais, condições de saúde, fase de vida, hábitos familiares e contexto sócio-cultural.
Mas desta vez irei abordar sobre o trabalho com crianças que apresentam dificuldades em processar as sensações do seu próprio corpo e do ambiente, e que, devido a isto, apresentam seletividade a alimentos e muitas vezes recusam em alimentar-se.
Em primeiro lugar é preciso olhar todo o comportamento da criança para levantar se existem outros dados de alteração no processamento sensorial. Por isso é importante uma avaliação criteriosa com um profissional especializado. É importante os pais aprenderem a observar os dados relevantes do comportamento do seu filho e valorizar a integração dos sentidos nas ações cotidianas.
Esta disfunção de origem neurológica pode afetar o desenvolvimento de muitas crianças prejudicando o seguimento das etapas do desenvolvimento infantil, aprendizagem acadêmica e relacionamento social.
Qualquer criança, jovem e adulto pode apresentar estas dificuldades. Há uma tendência genética por ser comum a existência em mais de um membro da família.
É frequente também encontrar a DPS associada a bebês prematuros, crianças do espectro autista, com síndromes genéticas e naquelas onde ocorreu algum dano cerebral.
De maneira geral há alguns pontos principais no comportamento da criança que interessam saber para fazer um mapeamento do dia-a-dia:
-se a criança responde de maneira exagerada a sons, movimentos, estímulos visuais, toque corporal, texturas, temperaturas e sabores. Se evita situações do dia, ambientes, pessoas, objetos, alimentos e certas brincadeiras.
- ou pelo contrário há uma resposta diminuída aos estímulos sensoriais havendo uma busca incessante por alguns destes estímulos demonstrando ter um comportamento diferente de outras crianças. Inclusive com pouca resposta a dor.
- se há problemas na organização e sequência do movimento intencional, ou atraso na coordenação motora ampla e fina
- se há dificuldades de atenção e memória
- se há atraso na linguagem.
- se há sintomas de medo, ansiedade e insegurança.

Havendo estes sintomas associados ao quadro de restrição alimentar provavelmente a criança se beneficiará com um programa de terapia ocupacional com abordagem na integração sensorial, além de outros profissionais que forem necessários de acordo com a história e comprometimento de cada um..



Lembretes: 
1- antes de tudo, tente compreender as aversões e preferências de seu filho. Elas irão mostrar o caminho de se construir uma boa relação. Pergunte a terapeuta do seu filho. Leia sobre Integração Sensorial.
Funciona muito bem quando cada um faz o exercício consigo, ou seja, perceba as suas próprias preferências sensoriais, suas reações frente a demanda do meio, os horários e disposições diferentes no decorrer do dia.
2- todo comportamento quer dizer algo sobre a pessoa. Entenda que a recusa alimentar em crianças com sintomas de DPS não é birra. É impossibilidade em processar algum tipo de textura, volume, quantidade e/ou temperatura dos alimentos. Além disso, a percepção de saciedade também é uma habilidade de base sensorial e difere muito para cada criança.
3- nunca force a criança a aceitar algo aversivo a ela. Entenda que a modulação e a discriminação das sensações muitas vezes estão alteradas. O que para um pode ser um prazer para outros pode ser um terror.
4-o quadro de DPS  pode se modificar mediante tratamento e pela adequação de hábitos no cotidiano.

Quer saber como?
Leia 10 dicas para ajudar no processamento sensorial em crianças com seletividade e recusa alimentar



QUARTA-FEIRA, 12 DE JUNHO DE 2013

Dica de brincadeira de integração sensorial para criança com autismo

Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO

Sabemos que muitas crianças com TEA, Transtorno do Espectro Autista, apresentam alterações no processamento das informações sensoriais e por isso necessitam de terapia de integração sensorial

Dá para aliar o necessário ao divertido? 
Ôô, se dá!  E fazendo farra é melhor ainda!

Uma das brincadeiras que favorece a regulação sensorial que a criança precisa é o "trenzinho humano" usando uma malha circular de lycra. A propriedade elástica e resistente da lycra estimula a sensação tátil e proprioceptiva dando informação do próprio corpo da criança e dos corpos das outras pessoas que estão no trem. 

Vamos pegar o Udi, do Toy Story

Na brincadeira podemos também exercitar:
- o "freio inibitório" que para algumas crianças é muito difícil. 
- a noção de diferentes graduações de velocidade, força e ritmo
- o estar com o outro, e regular uma ação em cooperação
- troca de papéis, já que ora ela conduz, ora é conduzida
- troca de sinais de comunicação: gestos e sons
- noção de peso, volume e deslocamento do corpo no espaço
- planejamento motor, criando caminhos com obstáculos, ter um fim a ser conquistado.
- agregar novos elementos a cada oportunidade de brincar: colocar mais pessoas, colocar um personagem que gosta


Levando a mamãe e o Udi para passear de trem

As variações dependem do nível de desenvolvimento, interesse e envolvimento da criança,  que por sua vez depende também do envolvimento e mediação possível do adulto.

              Assim vira aprendizagem ativa!


TERÇA-FEIRA, 5 DE MARÇO DE 2013

Tocar e ser tocado - reflexões de uma terapeuta ocupacional





Por Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO

Do ponto de vista fisiológico tocar envolve um grande número de receptores, sensações, neurônios, músculos, lugares de superfície e profundidade...da pele pra dentro com o próprio corpo, da pele pra fora com o meio externo, da pele de quem toca e da pele de quem é tocado. 

Tocar tem nome e endereço, mas infinitas representações subjetivas. Lugar do físico e do sensível. Da construção de identidade, de linguagem, de comportamento. O fluxo de informações entre a pele e o cérebro é contínuo até quando estamos dormindo. Cada corpo se retroalimenta dando um sentido de unidade e é alimentado a partir das interações com os outros corpos. 

Desde o útero até o final da vida os sistemas tátil e proprioceptivo constituem um papel fundamental  no sentido do corpo. E juntos com os outros sentidos irão integrar corpo, percepção e emoção preparando para aprendizagem, diariamente.. 

Há uma infinidade de escritos sobre o tocar pela perspectiva das funções neurológicas,  afetivas e espirituais. Por ora, gostaria de comentar sobre o nosso tocar como terapeutas.
Somos terapeutas que tocamos muito. Valorizamos o uso das mãos, as nossas e das pessoas que nos procuram, dos objetos e do uso destes, visando a autonomia.

O toque pode organizar, nutrir, sinalizar território, proteger, direcionar, conhecer, discriminar, comunicar, afetar, compartilhar. 

O tocar pode ir além da pele, além do corpo físico. 
Por tantos motivos e significados devemos sempre ter o cuidado ao tocar as pessoas em nossos atendimentos já que o uso inadequado pode ser, ao contrário, um elemento desagregador dos seres em questão. Por exemplo, algumas pessoas precisam, pelo menos durante algum tempo, que tenha algum elemento intermediário na pele ao ser tocado, como a própria roupa ou um lençol. Muitos bebês com hipersensibilidade tátil sofrem quando são tocados diretamente pois recebem o toque como invasão, como algo desagradável. É necessário conhecer a história do sujeito, suas preferências sensoriais e investir nos elementos que organizam para daí se construir juntos outros modos de conhecimento de si e do mundo.

Que tal umas perguntinhas reflexivas? 

A partir de que lugar você toca o outro? A partir do lugar de acolher, conhecer ou só pela necessidade em aplicar uma técnica? 
O que guia o seu toque? Como se constrói o setting terapêutico a partir do toque?
Como você fica em sintonia com o cliente para perceber os efeitos do seu trabalho?
Em que nível de importância você coloca a técnica e o conhecimento do sujeito, incluindo família e cuidador?
Em que nível de presença do seu próprio corpo você se relaciona com o corpo do cliente? 
Como lhe afeta tocar e ser tocado?  

SEXTA-FEIRA, 22 DE ABRIL DE 2011

Sistema Tátil – lambuzar para organizar

O que sentimos e fazemos a partir da nossa pele?

Por Ana Elizabeth Prado
Credito 3/1670 TO

O tato, ao contrário do que às vezes pensamos, não está localizado só na mão, mas em toda extensão do território corporal, na pele e mucosas. A pele que faz a fronteira do corpo entre o meio externo  é a mesma que informa as diferentes qualidades das informações táteis: o toque superficial, profundo, dor, temperatura, influenciando no funcionamento dos demais sistemas. O tato protege e discrimina devido aos diferentes receptores sensoriais espalhados por todo o corpo organizando, processando e regulando tanto funções físicas como comportamentais. Dos receptores aos centros superiores, e destes organizando respostas para entrar em relação. O que sentimos nos ajuda a agir!   
Desde a vida intrauterina o sistema tátil, o sistema proprioceptivo e o vestibular são os principais responsáveis pelas informações sensoriais primárias do corpo. Do espaço líquido ao ambiente atmosférico  somos continuamente inundados de informações de dentro e fora do nosso corpo. As primeiras relações vinculares irão se constituir pelo tecido corporal e o funcionamento dos órgãos de relação. Mamar e amamentar, por exemplo, são relações de reciprocidade que vão alimentando e estruturando vidas, da mãe e do bebê.
O mesmo acontece com todas as habilidades natas e aprendidas:  é pela vivência que vai integrando uma funcionalidade dinâmica configurando um modo de comportamento.
Alguns estudos mostram que a privação ou a diminuição de experiências táteis aumentam a predisposição para alteração de habilidades de interação social, problemas de coordenação motora e regulação do nível de atenção que contribuem para dificuldades de aprendizagem, entre outras consequências.
Estamos vivendo numa época em que o sistema que regula o nosso jeito de estar no mundo pouco está em uso ou funciona de forma restrita.
O excesso de limpeza, o corre-corre do tempo nas grandes metrópoles, a “ciência das infecções” e muitos outros fatores fazem diminuir cada vez mais as oportunidades de as crianças poderem vivenciar naturalmente as explorações táteis necessárias para um saudável desenvolvimento, unindo o prazer e a descoberta como fontes para sustentar o seguimento da vida.
Nestes tempos de Páscoa, e muito chocolate, vale aproveitar a oportunidade de deixar um lembrete: que todos, se quiserem, se lambuzem muito! Da cabeça aos pés!
Vida Nova!

Fontes inspiradoras: as crianças e famílias com as quais eu trabalho (muito obrigada), e os livros:
"Sensory Integration and Self-Regulation in Infants and Toddlers: helping very young children interact whit their environment" Williamson, G.; Anzalone, M. E. Zero a three, 2001
"Tocar - O Significado Humano da Pele" Montagu, A. Summus, 1988

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